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Nicolas Camille Flammarion |
Veja também: |
Quadro a óleo da consagrada pintora Nivea Bracher, segundo uma foto de Camille Flammarion. |
Observatório Flammarion de Juvisy |
Flammarion
em galo-romano significa “Aquele que leva a luz” Nicolas Camille Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX. Ele era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava-se constantemente que o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e aritmética. Tornou- se o primeiro aluno da escola onde freqüentava. Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram-no a aprender latim com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória. Em
pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e Bonsuet. Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: "a salvação da alma", e os mestres falavam: "De que serve ao homem conquistar o Universo se acaba perdendo a alma?".
Flammarion
passou por sérias dificuldades financeiras: Após
uma epidemia de cólera, seus pais passaram dificuldades financeiras e seu pai
foi obrigado a entregar tudo aos credores e se mudaram para Paris. Flammarion
mudou-se em setembro de 1856, então com quatorze anos de idade. Para
se manter ele trabalhou como auxiliar de gravador recebendo como pagamento casa
e comida. Comia
pouco e mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto. O
trabalho era áspero e o patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Pretendia
completar seus estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o
latim. Passou
a estudar na Associação Politécnica de Paris em cursos gratuitos. Queria obter o bacharelado e por isso estudava sozinho à noite. Deitava-se tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e considerava-se feliz. Apesar de estudar à noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia. Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São Roque, a qual freqüentava todas as quintas-feiras. Naturalmente tinha os domingos livres e tratou de ocupá-los. Nesse dia assistia as conferências feitas pelo abade sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações dos alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.
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Aos
16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a qual,
ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema "As
Maravilhas da Natureza". Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia
Universal", um livro de quinhentas páginas; o irmão, também
muito seu amigo, tomou-se livreiro e publicava-lhe os livros. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmogonia Universal". Após ver a obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu-lhe, então, colocá-lo no Observatório de Paris como aluno de Astronomia. Entrando para o Observatório, do qual era diretor Le Vèrrier, muito sofreu com as impertinências e perseguições desse diretor, que não podia conceber a idéia de um rapazola acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental. |
Retirando-se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais liberdade os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais belos ensinamentos sobre as regiões silenciosas do Infinito. Livre da atmosfera sufocante do Observatório, publicou no mesmo ano a sua obra "Pluralidade dos Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo estudioso.
Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas.
Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às suas densidades respectivas. Tornando-se espírita convicto, foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem denominou "O Bom Senso Encarnado". Em 1878, publica um catálogo de estrelas duplas visuais que foi, por muitos anos, considerado o melhor do mundo. Em 1882 funda a revista L´Astronomie que é editada até hoje e que provocaria o surgimento do Boletim Astronômico do Observatório de Paris.
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Seus livros repletos de ciência, filosofia e poesia granjearam a admiração em todo o mundo. É nesta época que recebe de um septuagenário de Bordeaux, a doação de uma imensa propriedade onde após dois anos de obras, instala o seu Observatório de Juvisy.
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Observatório Flammarion de Juvisy |
Interior do Observatório Flammarion de Juvisy |
Observando os astros |
O Observatório de Juvisy foi fundado por Flammarion em 1883, onde passou a realizar seus trabalhos nas áreas de astronomia, climatologia e meteorologia. Ele é visto pelos astrônomos contemporâneos como um astrônomo amador que realizou um trabalho de vulgarização da astronomia (no seu sentido de divulgação, e não no pejorativo de banalização) Esta qualificação possivelmente se deve ao fato de ele não fazer parte de nenhuma academia ou centro de pesquisa oficial, mas, certamente, não se pode qualificá-lo de amador por não publicar seus trabalhos regularmente em periódicos científicos. Em 1896 descobriu o chamado "Ciclo de Flammarion", período de 54 anos no qual se repetem nas mesmas regiões da Terra os eclipses do Sol.
Premiações:
Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia Francesa, no ano de 1880, o Prêmio Montyon, por seu livro "Astronomia Popular", traduzido em todas as línguas. Uma das primeiras personalidades a visitá-lo foi o Imperador do Brasil, D. Pedro II que em 29 de julho de 1887, inaugura, com uma observação de Vênus, a grande luneta de 25 cm de diâmetro. Nessa ocasião nosso Imperador plantou um pinheiro nos jardins de Juvisy e concedeu ao ilustre astrônomo a comenda da "Ordem da Rosa". Um monumento alusivo à visita foi inaugurado mais tarde.
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Outros títulos e honrarias lhe são concedidos pelos governos da Espanha e Romênia, dentre os quais, nas suas memórias, Flammarion enumera o prêmio "Ruban Violet" de oficial da instrução pública, a "Grande Ordem da Cruz de Isabella Católica" e a "Cruz da Grande Ordem de Carlos III", oferecidos pelo governo espanhol. |
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Em 28 de janeiro de 1887 reúne em sua residência vários astrônomos, amigos da ciência e colaboradores para criar a Sociedade Astronômica da França com o objetivo de "difundir as Ciências do Universo e fazer os amadores participarem do seu progresso", que continua vigente até os dias de hoje.
D. Pedro II é um dos primeiros membros fundadores (nº 85), bem como o "Pai da Aviação" e astrônomo amador, Alberto Santos Dumont. Milhares de astrônomos profissionais e amadores de todo o mundo voltado aos mesmos ideais de contemplar, observar e estudar o céu fazem parte da Sociedade.
Entre outras honrarias e prêmios, a Sociedade concede anualmente a "Plaquette du centenaire de Camille Flammarion", que é uma medalha de prata e o prêmio "Gabrielle et Camille Flammarion" para trabalhos e pesquisadores que se destacam.
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Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes:
"Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na Natureza", "Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do Céu", "O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas Mal-Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia", "Estela", "O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos", "O Fim do Mundo" e outras.
Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo enxertado em sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion -"poeta dos Céus", como o denominava Michelet - tornou-se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador. |
Mais sobre
Camille Flammarion
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Primeiros Contatos de Camille Flammarion com o Espiritismo.
Camille Flammarion, diariamente, ao
retornar ao domicílio de seus parentes, passava pelo Odéon e, como os
demais bibliógrafos e pesquisadores, detinha-se nas galerias desse teatro
para folhear as publicações mais em evidência. Num dia de novembro de
1861, abrindo uma delas, seus olhos incidiram sobre uma página que
ostentava o título "Pluralidade dos Mundos". "Ora,
precisamente nessa época" - diz-nos Flammarion - "eu trabalhava
numa obra referente a tal assunto, que seria lançada no ano
seguinte". A publicação por ele aberta era "O Livro dos Espíritos",
de Allan Kardec. O que mais o intrigou é que a origem das informações
esta atribuída a espíritos, o que ele resolveu verificar. Procurou Allan Kardec e passou a assistir as reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, onde exercitava-se semanalmente na "escrita automática" juntamente com outros médiuns, entre eles, o jovem Theóphile Gautier. Na Sociedade ele obteve diversas mensagens assinadas por Galileu, algumas das quais Kardec inseriu em "A Gênese". Pouco tempo depois, o mestre, o convidou a ingressar na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como "Membro Associado Livre". Flammarion declara, sem esconder sua justa satisfação, que o respectivo documento de inscrição, datado de 15 de novembro de 1861, fora assinado pelo próprio Presidente, Allan Kardec. |
Flammarion
freqüentou, também,
as sessões de uma médium de efeitos físicos, Mme. Huet, onde também iam
pessoas famosas como Victorien Sardou e o livreiro Didier. Em suas memórias ele
registra que viu a mesa erguer-se inteiramente, sem causa aparente. Observou
ditados que "não podem ser explicados por atos voluntários das pessoas
presentes". (FLAMMARION, 1911. p. 225).
Dúvidas
com Relação à sua Própria Mediunidade "Eu
não demorei a observar que as nossas comunicações mediúnicas
[3] refletiam simplesmente nossas idéias pessoais, e que Galileu por mim, e
que os habitantes de Júpiter por Sardou, são estranhos a estas produções
inconscientes dos nossos espíritos"
(FLAMMARION, 1923).
É
fundamental que a geração nova, que vem adquirindo as bases do conhecimento
espírita nas muitas mocidades e juventudes de nosso país, assim como aos
muitos grupos e reuniões de estudo sistematizado do Espiritismo que não
olvidasse a obra deste cientista espírita.
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Desencarne:
Camille Flammarion partiu da vida para a história nos braços da esposa Gabrielle, na Biblioteca do Observatório na tarde do dia 3 de junho de 1925.
Na manhã ensolarada desse dia, com a esposa a visitar os jardins do Observatório, onde a vida irradiava nas flores e nos cantos dos pássaros, disse: "Que mistério é a vida, que mistério é a morte..." Flammarion foi enterrado nos jardins do Observatório de Juvisy. Todos os anos na data do seu desencarne, membros da Sociedade Astronômica da França reúnem-se à volta de seu túmulo para reverenciar sua memória e os ensinamentos legados a todos os que cultuam a ciência do céu. Flammarion é sem dúvida alguma o astrônomo que mais despertou mentalidades voltadas a Astronomia.
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Discurso
de Camille Flammarion proferido Depois
que o Sr. Vice-Presidente da Sociedade, na tumba do mestre, fez a prece pelos
mortos e, em nome da Sociedade testemunhou os sentimentos de pesar que
acompanham o Sr. Allan Kardec à sua partida desta vida, o Sr. Camille
Flammarion pronunciou o discurso que vamos reproduzir em parte. De pé numa elevação, de onde dominava a assembléia, o Sr. Flammarion
foi ouvido por todos e afirmou publicamente a realidade dos fatos espíritas,
seu interesse geral na Ciência e sua importância futura. Esse discurso não é apenas um esboço do caráter do Sr. Allan Kardec e
do papel de seus trabalhos no movimento contemporâneo, mas ainda, e, sobretudo,
uma exposição da situação atual das Ciências Físicas, do ponto de vista do
mundo invisível, das forças naturais desconhecidas, da existência da alma e
de sua indestrutibilidade. |
Senhores, "Submetendo-me,
com deferência, no convite simpático dos amigos do pensador laborioso, cujo
corpo terreno jaz agora aos nossos pés, lembro-me de um dia sombrio de dezembro
de 1865. Eu pronunciava então as supremas palavras de adeus sobre o túmulo do
fundador da Livraria Acadêmica, o honrado Didier, que foi, como editor, o
colaborador convicto de Allan Kardec na publicação das obras fundamentais de
uma doutrina que lhe era cara, e que morreu também subitamente, como se o céu
tivesse querido poupar a esses dois espíritos íntegros o embaraço filosófico
de sair desta vida por um caminho diferente do comum. A mesma reflexão se
aplica a morte do nosso antigo colega Jobard, de Bruxelas. "Hoje
minha tarefa é ainda maior, porque eu desejaria poder representar ao pensamento
dos que me escutam, e ao de milhões de homens que, na Europa inteira e no novo
mundo, se ocuparam do problema ainda misterioso dos fenômenos ditos espíritas;
desejaria, digo eu, poder representar-lhes o interesse científico e o futuro
filosófico do estudo desses fenômenos (a que se entregaram, como ninguém
ignora, homens eminentes entre os contemporâneos). Gostaria de lhes fazer entrever que horizontes desconhecidos
verá o pensamento humano abrir-se à sua frente, à medida que estender o seu
conhecimento positivo das forças naturais em ação em torno de nós;
mostrar-lhes que tais constatações são o antídoto mais eficaz da lepra do
ateísmo, que parece atacar particularmente a nossa época de transição, e,
enfim, aqui testemunhar publicamente o eminente serviço que o autor do Livro
dos Espíritos prestou à Filosofia, chamando a atenção e a discussão
para fatos que, até agora, pertenciam ao domínio mórbido e funesto das
superstições religiosas. "Com
efeito, seria um ato importante aqui estabelecer, diante deste túmulo eloqüente,
que o exame metódico dos fenômenos, erradamente chamados sobrenaturais, longe
de renovar o espírito supersticioso e de enfraquecer a energia da razão, ao
contrário, afasta os erros e as ilusões da ignorância e serve melhor ao
progresso que a negação ilegítima dos que não se querem dar ao trabalho
de ver. Mas
não é aqui o lugar para abrir a arena à discussão irreverente. Deixemos
apenas descer de nossos pensamentos, sobre a face impassível do homem deitado
à nossa frente, testemunhos de afeição e sentimentos de pesar, que fiquem, em
sua volta e à volta do seu túmulo como um bálsamo do coração! E desde que sabemos que sua alma eterna sobrevive a esses
despojos mortais, como lhes preexistiu; desde que sabemos que laços indestrutíveis
ligam nosso mundo visível ao mundo invisível; desde que esta alma existe hoje
tão bem como há três dias, e que não é impossível achar-se atualmente à
minha frente, digamos-lhe que não quisemos ver apagar-se a sua imagem corporal
e encerrá-la em seu sepulcro, sem honrar unanimemente os seus trabalhos e a sua
memória, sem pagar um tributo de reconhecimento à sua encarnação terrestre,
tão utilmente e tão dignamente realizada. "De
início, traçarei em rápido esboço as linhas principais de sua carreira literária. "Morto
aos sessenta e cinco anos, Allan Kardec havia consagrado a primeira parte de sua
vida a escrever obras clássicas, destinadas sobretudo ao uso dos instrutores da
mocidade. Quando, lá por 1850, as manifestações, em aparência novas, das
mesas girantes, das batidas sem causa ostensiva, dos movimentos insólitos de
objetos e de móveis, começaram a atrair a atenção pública e, mesmo,
provocaram em imaginações aventurosas uma espécie de febre, devida à
novidade dessas experiências, Allan Kardec, estudando ao mesmo tempo o
magnetismo e seus estranhos efeitos, seguiu com a maior paciência e uma
judiciosa clarividência as experiências e as tentativas tão numerosas, então
feitas em Paris. Recolheu e pôs em ordem os resultados obtidos nessa longa
observação, e com eles compôs o corpo de doutrina publicado em 1857, na
primeira edição do Livro dos Espíritos. Todos sabeis que sucesso acolheu esta
obra, na França e no estrangeiro. "Atingindo
hoje sua décima - sexta edição, ele espalhou em todas as classes esse corpo de
doutrina elementar, que não é novo em sua essência, de vez que a escola de
Pitágoras, na Grécia, e a dos Druidas, em nossa própria Gália, ensinavam os
seus princípios, mas que revestia uma verdadeira forma de atualidade, por sua
correspondência com os fenômenos. "Depois
desta primeira obra apareceram, sucessivamente: o Livro dos Médiuns, ou Espiritismo Experimental; Que é o Espiritismo? resumo sob a forma de perguntas e respostas;
O
Evangelho Segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno; A Gênese; e a
morte veio surpreendê-lo no momento em que, em sua atividade infatigável,
trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo. "Pela
Revista Espírita e a Sociedade de Paris, da qual era presidente, ele se
havia, de certo modo, constituído em centro para onde tudo convergia, o traço
de união de todos os investigadores. Há
alguns meses, sentindo próximo o seu fim, preparou as condições de vitalidade
desses mesmos estudos após a sua morte, e estabeleceu a Comissão Central que o
sucede. "Despertou
rivalidades; fez escola sob uma forma um tanto pessoal; existe ainda alguma
divisão entre os "espiritualistas" e os "espíritas".
De agora em diante, senhores (tal é, pelo menos, o voto dos amigos da
verdade), devemos estar todos reunidos por uma solidariedade confraternal, pelos
mesmos esforços para a elucidação do problema, pelo desejo geral e impessoal
da verdade e do bem. "Quantos
corações foram consolados, de início, por esta crença religiosa! Quantas lágrimas foram enxutas!
Quantas
consciências abertas aos raios da beleza espiritual! Nem todos são felizes aqui na Terra.
Muitas afeições foram destruídas! Muitas almas foram adormecidas pelo ceticismo.
Não será nada haver trazido ao Espiritualismo tantos seres que
flutuavam na dúvida e que não mais amavam a vida física nem a intelectual? "Allan
Kardec era o que eu chamarei simplesmente "o bom senso encarnado."
Raciocínio reto e judicioso, aplicava, sem esquecer, à sua obra
permanente as indicações íntimas do senso comum. Aí não estava uma qualidade menor, na ordem das coisas que nos ocupam.
Era - pode-se afirmar - a primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual a obra
não poderia tornar-se popular, nem lançar no mundo as suas raízes imensas.
Em maioria, aqueles que se
entregaram a esses estudos lembraram-se de ter sido, na mocidade ou em certas
circunstâncias especiais, testemunhas de manifestações inexplicadas; há
poucas famílias que não tenham observado em sua história acontecimentos
desta ordem. O primeiro ponto era aplicar a esses fatos o raciocínio firme do
simples bom-senso e examiná-los segundo os princípios de método positivo. "Como
o próprio organizador deste estudo demorado e difícil previra, esta doutrina,
até então filosófica, deve entrar agora em seu período científico. Os fenômenos físicos, sobre os quais não se insistiu de começo, devem
tornar-se objeto da crítica experimental, sem a qual nenhuma constatação séria
é possível. Este método
experimental, ao qual devemos a glória do progresso moderno e as maravilhas da
eletricidade e do vapor, deve colher os fenômenos de ordem ainda misteriosa, a
que assistimos, dissecá-los, medi-los, defini-los. "Porque,
senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas
conhecemos o abecê. O tempo dos
dogmas terminou. A Natureza abarca
o Universo. O próprio Deus, que
outrora foi feito à imagem do homem, não pode ser considerado pela Metafísica
moderna senão como um espírito na Natureza. O sobrenatural não existe.
As manifestações obtidas através dos médiuns, como as do magnetismo e do
sonambulismo. são de ordem natural e devem ser severamente submetidas ao
controle da experiência. Não há
mais milagres. Assistimos à aurora
de uma Ciência desconhecida. Quem
poderá prever a que conseqüências conduzirá, no mundo do pensamento, o
estudo positivo desta Psicologia nova? "De
agora em diante a Ciência rege o mundo. E, senhores, não será estranho a este
discurso fúnebre notar sua obra atual e as induções novas que ela nos
descobre, precisamente do ponto de vista de nossas pesquisas." Aqui
o Sr. Flammarion entra na parte científica de seu discurso. Expõe o estado atual da Astronomia e o da Física, desenvolvendo
particularmente as descobertas relativas à recente análise do espectro
solar. Destas descobertas resulta
que não vemos quase nada do que se passa em torno de nós na Natureza. Os raios caloríficos que evaporam a água formam as nuvens, causam os
ventos, as correntes, organizam a vida do globo, são invisíveis para a nossa
retina. Os raios químicos que
regem os movimentos das plantas e as transformações químicas do mundo inorgânico
são igualmente invisíveis. A Ciência
contemporânea autoriza, pois, os pontos de vista revelados pelo Espiritismo e
nos abre, por sua vez, um mundo invisível real, cujo conhecimento só pode
esclarecer-nos quanto ao modo de produção dos fenômenos espíritas. A
seguir, o jovem astrônomo apresentou o quadro das metamorfoses, do qual resulta
que a existência e a Imortalidade da alma se revelam pelas mesmas leis da vida. ................................................................................................................................ Após
a exposição científica, assim terminou ele: "Aquele
cuja visão é limitada pelo orgulho ou pelo preconceito e não compreendem esses desejos ansiosos de nossos
pensamentos, ávidos de conhecimentos, que atirem sobre tal gênero de estudos o
sarcasmo ou o anátema! Nós erguemos mais alto as nossas contemplações!...
Tu foste o primeiro, ó mestre e amigo! tu foste o primeiro que, desde o
começo de minha carreira astronômica, testemunhou uma viva simpatia por minhas
deduções relativas à existência das Humanidades Celestes; porque, tomando
nas mãos o livro Pluralidade dos mundos habitados, puseste-o a seguir na
base do edifício doutrinário que sonhaste. Muitas vezes nos entretínhamos, juntos, sobre esta vida celeste
tão misteriosa. Agora, ó alma! sabes por uma visão direta em que consiste
essa vida espiritual, à qual todos retornaremos, e que esquecemos durante esta
existência. "Agora
voltaste a esse mundo de onde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrenos.
Teu invólucro dorme aos nossos pés, teu cérebro está extinto, teus olhos estão
fechados para não mais se abrirem, tua palavra não mais será ouvida!...
Sabemos que todos nós chegaremos a esse último sono, à mesma inércia, à
mesma poeira. Mas não é neste envoltório que pomos a nossa glória e a nossa
esperança. O corpo cai, a alma
fica e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor. E, no céu
imenso, onde se exercitarão as nossas mais poderosas faculdades, continuaremos
os estudos que na Terra dispunham de local muito acanhado para os conter. Preferimos saber esta verdade, a crer que jazes por inteiro neste cadáver,
e que tua alma tenha sido destruída pela cessação do jogo de um órgão. A
imortalidade é a luz da vida, como este sol brilhante é a luz da Natureza. "Até logo, meu caro Allan Kardec, até logo."
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Sobre o Observatório Astronômico de Matias Barbosa (MG)
Sede administrativa e Pavilhão
de Observações
Fundado em abril de 1954 por Nelson Travnik
Observando o Planeta Marte em 1971 - Luneta com objetiva "Jagers" de 152 mm de diâmetro Quando
contava apenas seis anos de idade, sua família mudou-se para Juiz de Fora (MG),
e no ano seguinte para a cidade vizinha de Matias Barbosa (MG) onde seu pai
Albert Travnik, de nacionalidade austríaca, químico com formação em Viena (Áustria),
encontrou condições ideais para a instalar o seu “Curtume Mineiro de Peles
Finas”. Após sua morte, seu nome foi dado a uma rua da cidade. Em
abril de 1954 resolveu fundar o ‘Observatório Astronômico Flammarion’,
homenageando, assim, o grande astrônomo francês, Camille Flammarion, cujos
livros abriram-lhes os olhos para a contemplação das maravilhas celestes. Em três oportunidades, cometas foram fotografados em absoluta primeira mão no País com destaque na imprensa nacional. A repercussão dos trabalhos também em outras áreas ganharam prestígio na comunidade astronômica.O "Flammarion" desempenhou ainda importante papel na formação de mentalidades voltadas ao estudo do céu. Em agosto de 1976, por falta de
perspectivas para ampliar suas pesquisas encerrou suas atividades. OBS: Em 1976, por motivo de mudança para Campinas, falta de apoio, e considerando a inexistência de membros que pudessem dar continuidade ao trabalho, Nelson Travnik foi obrigado a fechar o Observatório de Matias Barbosa.
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